vi seu nome,
José
num documento
de papai dos anos 40
vi seu nome
quando em voz rouca
anunciaram a
Segunda Grande Guerra
vi seu nome
impresso em maiúsculas
no jornal
daquele dia:
JOSÉ
vi seu nome
José
eu vi seu
nome
quando nos
fizeram assinar um papel
com o meu e o seu
nome
e eu, que entre
tantos nomes,
vim a ser, no
mundo: Maria José
cheguei a ver
em pouca luz
o seu nome
debaixo da terra
entre as águas
dos rios
José, vi seu
nome
nas flores
nos bichos
extintos
no frio, e no
calor
em todas as
cores, José,
eu vi o seu
nome
e mesmo
perdendo a visão,
eu continuei a
saga
de enxergar seu
nome
porque o seu
nome, José,
deixou de ser
palavra há muito tempo,
e assim, agora
como é
matéria da
memória
eu vejo o seu
nome
no assoalho da
casa que abandonamos
no chão úmido
da noite
eu vejo o seu
nome
José
quando me perco
nas palavras cruzadas
no labirinto de
uma família
eu vi seu nome
quando olhei
para as pedras
que você já
doente
carregou nos
bolsos da calça
vi seu nome na
doença mais triste
José
a que te fez
esquecer da vida
da dor e dos
passarinhos que matava nas gaiolas
eu vi seu nome
e de tanto ver
teu nome
José,
eu fiquei muda