segunda-feira, 30 de julho de 2018

Fábulalgoz

Fico muito presa fabulando quem queria ser e acabo não me sendo. que armadilha me imponho! o celular e o espelho: oponentes poderosos. tudo é imagem, auto-criação da personagem. não protagonizo o roteiro da minha vida, apenas agonizo, se bem quer saber! preciso me relacionar primeiro comigo. você me ensinou sem querer. tenho muito o que fazer. talvez sozinha eu consiga fazer todas as coisas... antes de morrer. talvez consiga ver as cores que eu via com você, ou algum outro. outro que não eu, que não eu pois já fui muitos outros e não eu mesma, o que muito estraçalha a vida de alguém... uma mulher que não sou eu. uma criança que não sou eu. quem sabe sozinha eu pare de ser todos esses que eu não cultivo, esses outros que eu nem reconheço, e que não podem simplesmente ser junto a mim. me toma essa exaltação, e meu ventre pulsa pelo próprio fogo. quero me dar à luz. talvez sozinha eu consiga.

sexta-feira, 13 de julho de 2018

show de horror

Uma estátua de cabelos longos e braços abertos se vira de costas pra mim. deus do sol, não me deixa aqui sozinha no frio e no molhado. eu bati e abri a cabeça no chão no teto da capela sistina; tocava mutantes e muita gente cantou quando o sangue fez uma poça ali mesmo. só que dentro da minha cabeça entraram uns líquidos exteriores, sabe como é? corridas de cavalos, açúcar demasiado, cabides vazios e maçãs de professores. quem é que agora vai querer martelar com meu crânio, de volta pra casa, de volta pra porra nenhuma. o buraco que sugou minha memória é infinito. a falta de anestesia cria buracos fundos. sentindo o cheiro de um centro empresarial, repleto de lojas, me recordo do seu cheiro. a mágica acabou com as frutas da cozinha. apodrecem do lado de fora.. talvez por causa dos olhares não retribuídos, dos ruídos nas mensagens, dos bichos atropelados em beiras de estrada, das alquimias abandonadas e dos abortos das missões. olhar ao redor ficou inútil. as células que me compõem despertam num novo som. vai ser show de horror na certa. não aguento mais esperar o sol se pôr, a onda bater ou você acordar. virei na bifurcação errada.

segunda-feira, 9 de julho de 2018

A Lista

A gente nunca foi ao cinema, nunca no mar mergulhamos. não fizemos uma música, que dirá uma grande caminhada. nunca comemos sushi nem visitamos um parente. nunca mostramos pro outro o lugar favorito. a gente nunca fez um filme ou um vídeo qualquer, e nem um bolo a gente fez. eu nunca te dei um presente e a gente não dormiu na rede. nenhum esporte a gente praticou juntos. e nem sair pra dançar a gente foi. a gente até falou em fazer tudo isso, e outras coisas mais... mas antes nasceu um abismo, que se colocou no meio da gente.