quarta-feira, 15 de agosto de 2018

a nossa cidade

tem uma lua na sua mão
ela cabe mesmo crescente
tem uma esperança 
no tronco da cidade
que a gente inventou pra gente
lá o sol escorre por mais tempo
que o sinal de trânsito fica aberto
aos pedestres
na cidade de vocês
lá tem colheitas de relicários
e fontes intermináveis
e tem até prazeres sem fim
linguagens desmedidas
e catadores de ameixas
tem eu
sua mãe
sua filha
segue a poeira que paira nas estradas
o som daquela alma singular
a mesma que há quase duzentos anos
fez você cantar
e vem

segunda-feira, 13 de agosto de 2018

férias celulares

férias de celular
não duram mais
que uma dor de cotovelo 
já tenho 
novamente
um aparelho
que faz a ponte
entre a gente.
celular perdido,
roubado
ou furtado
nada mais é
que o universo
te dizendo
te chacoalhando
vai, criatura!
ser gauche na vida.

hilda, voce ta aí?

Alejandra Pizarnik não quis mais viver
e deixou um recado na lousa: 
'Não quero ir
nada mais
que até o fundo'
E eu vejo sim que faz todo sentido.
Hilda Hilst
quis falar com os mortos
mas antes
com os vivos
Não sei mesmo o que doeu mais.
Hilda,
como você tá se sentindo?
Agora

domingo, 12 de agosto de 2018

...

cruzar com você
de novo
é desumano
vou pular esquina
e brotar atalho
se tiver que cruzar com você
mais uma vez
me parece exagero
vou ter que driblar destino
pra não ter que cruzar com você
novamente
pode ser devastador
imagina se eu não estiver
num dia de intuição afiada
e acabar cruzando com você
ainda
ai, não

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

II

Tenho medo de você quando
vira um corpo retorcido sobre a mesa
(só mais um corpo)
Tenho pena de você quando
de passos entortados
me diz que já não sabe chorar
Tenho raiva
quando você
quieto como o diabo
me rabisca a coxa
com canetinha vermelha
E tenho amor
por você
quando num tempo
que não admite fim ou começo
as crianças correm
na sua direção